domingo, 21 de novembro de 2010

Ana Clara, Cristiana e Ana Cristina

Eram três irmãs vizinhas. Elas moravam na rua paralela, onde morava também a professora Edna Cardoso. No entanto, como os nossos quintais se comunicavam por uma cerca mais ou menos aberta, permitíamos que as filhas de Dona Hilma e Seu Geraldo  passassem pelo nosso quintal, pois era mais perto para elas. Mas não era sempre, na verdade era muito raro. 

Elas eram as únicas meninas que moravam perto de nós.

Tenho uma vaga lembrança de Dona Hilma e Seu Geraldo. Lembro-me de que ela era uma morena muito bonita e ele branco muito magro (tanto que as veias ficavam expostas). A sua casa era também terreiro de candomblé. Uma vez fomos convidadas para irmos a uma das festas. Minha mãe nos levou. Algumas imagens, sons e paladares marcaram a minha experiência naquele momento: os atabaques, a dança do orixá (Seu Geraldo dançava de uma forma diferente) e o gosto da pipoca sem sal. Inicialmente fiquei feliz por receber as pipocas, mas quando coloquei na boca, vi que não tinha sal. Olhei para a minha mãe e ela disse que era assim mesmo.

Havia um pé de genipapo cujo tronco servia de cerca entre o nosso quintal e das nossas vizinhas. Sempre catávamos os genipapos que caía no chão. Mas tinha um bonito, inteiro, que estava no quintal das minhas vizinhas e todo mundo sabe que o genipapo do vizinho é sempre o mais gostoso e, por conta disso, entrei. Quando estava saindo me deparei com uma das meninas, não me lembro quem e escondi imediatamente o genipapo atrás das costas. Não me lembro do desfecho, mas a sensação de perigo e de ser flagrada me marcou profundamente.

Lembro-me que Cristiana era a mais vaidosa. Tinha pulseiras finas e douradas que balançavam e faziam um barulhinho. Era a mais extrovertida. No entanto, o nosso contato era muito pouco. A lembrança que tenho delas é de que eram muito alegres, falantes e buscavam amizade. Ana Cristina era a menor e não me lembro muito dela.

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