segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A praia de Itacaranha (parte I)

A praia de Itacaranha, até os anos 80, era paradisíaca. Nos anos 70, havia dois pneus enormes de trator que ficavam na areia da praia. Servia de assento e, quando a maré estava bem alta, dava-se "caída" deles. Era um objeto estranho, não resta dúvida, mas entretia.


Quando a maré estava vazia, eu caminhava pela beira da praia para catar conchas e búzios. O sol dava nas costas, mas nem ligava, pois a distração atenuava qualquer ardor. Em geral, fazia isso pela manhã, cedo. Certa vez, catamos tanto búzios que a minha mãe fez uma cortina de fios plásticos cor de rosa que era atravessava os búzios pelas extremidades. A cortina foi afixada na passagem que ficava entre a sala e a cozinha e quando passávamos fazia um barulhinho delicioso.

A praia era um convite para uma aprendizagem de formas, cores e cheiros. As pedras, conchas, búzios tinham formas e cores diferentes e eram ora bonitas ora estranhas. A maré, por zua vez, exalava um odor que frequentemente chamávamos de "maresia". Era um cheiro que sentia de manhã cedo e nos convidava para um mergulho. Era simplesmente maravilhoso, mágico, irmos à praia de manhã cedo. Um sol matinal começava a dourar as águas e ao som da marola, nos divertíamos. Posso ouvir ainda hoje o som suave, contínuo e ritmado das ondas quando espalhavam-se na areia. Em geral, durante a semana, não havia pessoas na praia. Eventualmente um pescador ou um ou dois grupos de pessoas com crianças. De dentro d'água, víamos o trem passar. Olhávamos sempre. O trem era sempre um espetáculo à parte e também compunha o cenário daquela orla.

Como esquecer as águas cristalinas de Itacaranha? Como esquecer os cardumes que saltavam e passavam por nós? Como esquecer as águas vivas, as pinaúnas e as caravelas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário