domingo, 21 de novembro de 2010

SIRIS

Pescar siri era uma atividade muito divertida. Havia um ritual preparatório que antecedia o dia de pesca: a minha tia fazia os gererés de crochê, usando cordão. Depois disso, minha mãe costurava sacos plásticos de leite para fazer a sacola na qual os siris eram colocados. Um dia antes, minha tia (Celininha, a que era muda e surda) pegava folhas de bananeira e do talo fazia bóias em pedaços de aproximadamente 15cm a 20cm nos quais eram amarrados cordão. Para mantê-los presos ao talo liso e escorregadio da bananeira, dávamos um leve corte e fincávamos o cordão nele. No dia da pesca, bem cedo, acordávamos para colocar na ponta do cordão a carne e a pedra. Com tudo pronto, íamos para a praia que deveria estar vazia. A minha tia entendia de lua, maré cheia e vazante, então ela mesma organizava a pescaria.

Na praia, nas águas barrentas, lançávamos as iscas e esperávamos. Enquanto isso, a nossa tia nos distraía com brincadeiras, mas não permitia que fizéssemos barulho para não espantar os siris. Havia muita pedra quando a maré estava vazia. Pedras de formatos estranhos. Uma delas era revestida por um tipo de alga esponjosa, roseada, com pintinhas pretas. Pareciam perigosas, mas ao mesmo tempo belas. Olhava, admirava a sua beleza, mas não chegava perto. As pedras também eram revestidas de mariscos, siris que se entocavam nos espaços côncavos, peixes que se movimentavam nas poças de água.

Uma das coisas inesquecíveis é a sensação do siri mordendo a isca. Podia sentir pelo tremor do cordão que lá estava ele. Então, por debaixo, colocávamos o gereré para que não escapasse ao nos ver. O nosso preferido era o siri azul, pois eram os maiores e mais saborosos. Eram raros. Quando encontravámos uma fêmea com seus ovos cor de abóbora, jogávamos no mar novamente, pois a nossa tia não deixava que levássemos para casa. Dizia para nós que ali eram os futuros filhotes.

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